Hoje de manhã acordei e o mundo estava estranho.
A cama, as paredes e até a pele que me cobria as entranhas.
Decidi pular esta etapa do dia. Funcionou.
Hoje à tarde eu descobri que a verdadeira estranha sou eu.
Bebo coca-cola como se fosse álcool.
O líquido borbulha por dentro de mim. Gozo.
Evito embebedar-me sozinha porque sei que o álcool vai me mordiscando a identidade.
A cada copo eu perco um pouco de mim.
Há um menino rezando na beira do cais.
Ele se ajoelha e pede a Deus para mantê-lo assim, intacto. Sóbrio.
Um maremoto desaba todos os dias sobre sua cidade.
Ele sobrevive. E nada sequer o toca.
Pela manhã a cidade se reconstroi para no fim do dia desabar.
E o menino reza todos os dias. Toda noite. Persistentemente.
Dizem que ele antes pedia a Deus para matá-lo.
Não se sabe o que aconteceu depois.
Eu me sento no sofá de pernas abertas.
No meu corpo um vestido velho,
A calcinha pendurada no varal.
Alguém deixou um cigarro apagado em cima da mesa.
Podia acendê-lo, mas vejo pendurado na parede
Um quadro. Pintaram o mar.
O mar que o menino vê todas as noites enquanto reza:
Infindo, sereno e voraz.
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