Hoje achei por acaso a blusa que eu usava pra fumar contigo. Da outra vez. Quando a minha doença me fazia genuinamente feliz. Quanto mais sã, mais triste. A lucidez é o pior castigo que o ser humano recebe por pecar. E agora eu acordo devagar pela manhã, e me fascino com tudo aquilo que me apavora. Um universo imenso de coisas que eu vou desaprender. Nada de certo me aguarda. As tardes vão se desmanchando e todos os dias eu durmo infeliz. E quando não basta a dor pura do ar invadindo os meus pulmões, a solidão vem pra me embalar de frio. Não durmo. O nada do mundo me incomoda muito. Eu perdi o amor nos trilhos do avião e agora não sou ninguém. Espero um trem que nunca chega, uma felicidade que não me pertence.
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