terça-feira, 22 de junho de 2021

Ovo triste

Tenho estado perturbada
Meus traumas me visitam, ficam,
Trazem companhia
Não requisitados, hóspedes invasores
Moradores de assalto
Me violentam
Revisitolentam
Meus cantos, meus pedaços ermos
Minhas partes íntimas
O que eu quero quieto e intocado
A mente que eu quero pura e inocupada
O que é meu.

Os traumas de outros me visitam
Com suas vidas cheias
Profundas
Carregadas
Do dia a dia, do tudo
Contrário ao meu nada, que deveria ser vazio
Mas meu nada é tão sufocantemente abarrotado
De gente, de caos, uma multidão correndo pro mesmo meio fugindo de um apocalipse zumbi
E eu lá no meio
Sempre no meio de tudo, me afogando
Meu nada é sempre cheio demais

Eu tento buscar uma distração
Não
Eu tento buscar uma atividade
Eu tento tentar um pensamento
Algo feliz que seja
Um mínimo
Um consolo no abrir de meus olhos 
Pela manhã
Eu tento desejar algo bom
Para não querer morrer logo cedo
Eu já não praticava mais isso
Mas de quedas e quedas vive o homem; 
a mulher, a pessoa, como se fala esses dias

Mas em minutos, 
Qualquer coisa que eu possa pensar
Se desanda como um bolo feito sem experiência,
Feito com muito cansaço, exausto
Acho mais uma ferida
Colo no meu álbum de figurinhas
Tiro mais uma lasca de couro do meu corpo
Penduro pra secar com as outras
E fico olhando, inevitável, minha coleção

Eu tenho sido triste 
E não consigo escapar
Da mesma armadilha onde pisei,
Mesmo que eu só precise, para isso, levantar o pé
E continuar andando

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