Estava escrito assim:
Na rua
Um poste
Sonha em ser lua
Pensei:
Um corpo
Sonha existir
Que bonito
Poesia na rua
Eu sou o poste da rua
Fazia tempo
que não me sentia assim
O risco
Grifado na minha testa
A maneira como
Eu balbuciava sozinha
Gesticulava pro vento
Ou falava alto para estranhos
Sobre me jogar na frente de carros
Cortar os pulsos
Ou nunca mais acordar
Me senti EU
Foi alarmante
Um amigo se preocupou comigo
Um colega, eu acho
Minha amiga,
Minha mãe postiça
Comecei a manhãzinha
Ligando pro controle de pragas
A praga era eu
Renata ficou mais de uma hora no telefone comigo
Era só mais uma Marcela
É estranho os estranhos
Como eles nunca perfuram minha pele
Fundo o suficiente
Nunca é suficiente
Eu sempre estou sufocada
Meus sonhos sobre assassinato e o ditocujo armado
E o diabo
Voltei no tempo
Comi a droga do calzone de charge
Tava maravilhoso
Uma dose de tequila dourada
Achei que seria difícil de engolir depois de tanto tempo
Quase nem tinha gosto, desceu fácil
Eu beberia mais três
Fumei cigarros tal qual uma chaminé
Nem contei, chutando a tradição no lixo
Pretendia ter me cortado
Me impediram
Aceitei a decisão alheia do universo
Eu pensei um pouco mais cedo:
Essa semana eu vou ter uma recaída
Não fazia ideia que eu não ia aguentar horas
Fazia tempo
Eu não me lembrava como era
Nada fez, fazia ou faz sentido
Se eu pudesse pular da ponte, eu pulava
Mas a ponte é só uma metáfora
Eu me refiro a prédios.
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