Como um boi fatiado no açougue
Você brinca comigo
Eu me sinto uma boneca de pano
Coberta de alfinetes por todo o corpo
Meus nervos entram em pane
Minha libido ferve
Minhas mãos tremem
Minhas pernas se contraem
Como tentassem entrar no meu quadril
Pra me diminuir
Pra eu caber em você
No seu copo d'água,
Na sua colher de sobremesa
Na palma da sua mão
Eu fico esperando
Que você a feche
Que eu escorra como uma massa
Por entre teus dedos
Mas você me põe no freezer
Me manda esperar
E esperar
E esperar
E tenta me agradar quando eu saio
Pra que eu permaneça fresca
Mas servida em cubos
Para fácil mastigação
Eu tento ser boa
Vermelha o suficiente
Doce, salgada, picante
Tento ser macia
E consumível
Como não fosse em essência um veneno
Como não quisesse de fato sê-lo
Como se, ao ter escolha, fosse escolher
Qualquer outra opção
Se não intoxicá-lo
Eu brinco com a morte
Eu brinco comigo mesma
No espelho,
Com as sombras que se camuflam
No escuro do meu quarto
Você me puxa, empurra
Me sova, como um pão
Mas eu sou feita de carne
Não dá pra me rasgar na mão
Você precisa de algo afiado
Uma katana pode funcionar
Vê, eu sigo te dando dicas
De como me desmoronar
Eu achei que tinha parado com isso
Eu também achei que eu tinha parado de fumar
Eu sou servida num prato grande
Marinada com nicotina e açúcar
Com pitadas de sal pra ressaltar o gosto
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