Não sabia o que dizer, calei.
Pelos calos que já tinha
E pela tristeza crônica.
Calei pelas decepções
Que me trouxeram os homens.
Calei porque estava
Em meu período de descanso.
Fugi, não pra muito longe.
Sentei ali na esquina,
Numa pedra esquecida no mato
E ouvi as vozes de fato
Me trazerem de volta a minha razão.
Silenciei na verdade meu peito
As coisas que geralmente aceito,
Apunhalei minha paixão.
A consciência me deu um banho.
Quando eu vi já não mais era,
Já não esperava ou buscava,
Já não prometia.
Tentava dia por dia
Cumprir o já combinado,
Num egoísmo centrado,
Sem obsessão nenhuma.
Concessão, noites breves,
Passeios debaixo do sol.
No primeiro trecho
Eu ainda não sabia
Como morrer meu coração.
Mas a agonia das vezes tantas
Já se deitava sobre a cama,
Por vezes chamava meu nome
Se escondendo no cansaço.
Era minha,
A cama, a fadiga,
A agonia e a vida,
Que eu recomeçava a viver,
Como em todos os outros anos.
Eu me calei
E meu silêncio
Era mais forte que todos os outros.
Não me acometia,
Porque eu não tolerava
A saudade ou solidão
Que só eu mesma trazia.
Se eu fosse calada,
Se não me desesperasse,
Se não fumasse pra sempre,
Se bebesse quase nada,
Talvez eu tivesse tempo
De lembrar de quem já fora.
Renascer da minha ira
E nunca mais ir embora.
Enfim, ter a minha paz,
De ser eu, dentro de mim,
De ter uma vida assim,
Sem motivo e incompleta
Que nunca ia ser correta.
Talvez eu me recordasse
De me suportar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário