quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Espelho duplo

Em todas as vezes que eu te disse pra parar,
Em todas as vezes que eu te pedi pra ficar,
Nos meus olhos assustados
E nos meus dedos aflitos,
No meu silêncio sem fim
E nas lágrimas que derramei,
Nos infinitos vôos que peguei
Pensando sempre em você;

Nas ruas angustiadas que percorri,
Nos cigarros que fumei, e então aboli,
Nas músicas que escutei,
Enquanto me apunhalava por dentro,
No meu filme preferido
Que era você em carne e osso
Em versão feminina,
Naquele desenho feito em Santa Catarina,
Sobre o qual nunca te falei;

Sob o sol que me ardia a pele
Ou sob a água que me afogava,
Sob os machucados que não sentia
E sob o teu calor que me aliviava,

Sob o fogo e sob a terra,
Dentro da esfera do mundo,
De tudo, de mim,
Amei você.

Nos textos que não te escrevi,
Porque doía demais,
Nas palavras que não te disse,
Por não suportar minha própria voz,

Em Maysa e Lana, que me punham pra dormir,
Em Jeffree e Ana, que nos traziam de volta,
Em todas as coisas que foram,
Que eu nunca soube mentir,
Amei você.

Nos lábios que cerrei irada,
Nos pisos em que me atirei
- gritava -
Jurei que nunca mais te amava,
Mas nunca pude deixar de ser amada.

Te olhei,
Com olhos de nunca antes,
Toquei
O que restava da tua sombra no meu ar,
Pensei
Que a minha dor agora não era nada,
E desavisada
Te amei,

Como sempre tinha amado antes,
Talvez não soubesse,
Como sempre negava,
Que fosse sempre eu;
Amando você.

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