segunda-feira, 25 de julho de 2016

Dor

Eu tenho uma dor que me deram.
É minha e apenas minha essa dor.
Não é de Adenor, de Jorge,
De Sofia ou de Maria.
Essa dor que tenho é só minha.

Não vejo por que doá-la,
Descartar na reciclagem,
Embrulhar pra viagem.
Se ela é minha e vem,
Como um cachorro e seu dono,
É companhia.
Então, gosto da minha dor.

Eu tenho uma dor que me deram.
Ela fura, aperta e enforca.
Ela me rasga
E às vezes me entorta.
Mas, se a dor é minha,
De que isso importa?

Foi presente
Recebido há muito tempo.
Estava eu ao relento,
Mendigando afeto.
Foi tudo que puderam me oferecer.

Eu aprendi a ler,
A beijar e a correr atrás.
Eu aprendi que às vezes
É só querer um pouco mais
Que gente passa a ter.

Mas eu já tenho essa dor,
Que me deram.
Não tenho as mãos vazias
Nem peso no peito.

Aceito a minha carga
Como fizesse parte
De minhas costas,
Dos ossos.
A mesma dor que eu tenho
Ao me levantar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário