domingo, 10 de julho de 2016

O oco

Silêncio.
Esse silêncio é meu, muito obrigada.
Ninguém grita, nada bate.
Todos os corações pararam.
Não se ouve uma respiração sequer.
É madrugada.
Talvez tudo esteja fora de lugar.
Eu não me importo.
Não preciso dormir.
É o meu silêncio.
Não há nada no mundo
Que eu precise fazer agora.
Ninguém fala, ninguém chora.
Não há cobras rastejando pelo chão.
Não há amor no ar, nos olhos.
Não há cheiro nem gosto.
Quase não resta luz.
Um pouco de dor, tudo bem.
Silêncio.
Essa solidão é minha.
Minha, minha.
Eu só queria estar sozinha.
Uma vez, pra variar.
Sem som.
Martelos batendo na minha cabeça
Ou o gargalhar angustiante
De festeiros diversos.
Sem música, sem notícias no último volume.
Sem ajudas, sem saídas,
Sem álcool, cigarro ou brigas.
Sem ter nada pra fazer.
Sem ter aonde ir.
Só eu e eu.
E o escuro.
E o silêncio.
Sem que a tristeza me consuma
Ou a revolta
Ou o desespero
Ou a falta de ar.
Sem as vozes,
Sem discursos sobre a alimentação.
Sem relacionamentos ou parentes.
Esse silêncio é meu.
E doi.
Doi na escuridão.
Doi na luz.
Doi quando não tem som.
Ou companhia, talvez.
Doi essa solidão
Que é minha
E que nunca vai me deixar.
Mas esse vazio
Que toma conta de tudo
No fundo
Doi menos que o meu transbordar.

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