segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Não leve em consideração

Te pergunto agora
De que me servem as cores?
As tintas, as telas, o livro e aqueles lápis
De que me servem?
E esse plano de fundo de viado?
Eu tentei
Eu até tento
Vai lá
Diz pra eles que você quer ser feliz
E a verdade
Pra quem você diz?
A cada cinco passos
Eu enxergo o fim
E não vai demorar, eu sinto
Até eu dizer adeus
Eu não apenas minto
Meu mundo se transforma
Meus olhos já são outros
E amanhã ninguém sabe
O que eu vou fazer
O que eu vou querer
E quem eu vou resolver abandonar
E se eu nunca tiver vontade de mudar?
E se eu nunca tive?
O que é que eu estou fazendo aqui?
Dá pra sentir
A raiva tomando conta de mim
E o desprezo
A violência mansa
Calando tudo ao meu redor
Impassível, analgésica
Tentando engolir um remédio pra apagar
Pode ser
Que eu não seja aquela louca
Ou miseravelmente comum
Talvez eu só seja má
Ou eu posso me salvar nesse egoísmo
Talvez eu nunca tenha precisado de salvação
E se eu tiver fingido todo esse tempo?
E se eu não for um arco-íris
Ou a total falta de luz?
Eu posso ser um mero azul
De caneta bic
Que todo mundo conhece
Que serve pra muito
E não tem absolutamente nada de especial
Talvez o especial não exista
Mas se eu for niilista
É provável que eu me livre da dor
Eu quero que todos eles vão se foder
Eu tô tentando
Em prol da diplomacia
Não me afastar do mundo
Porque eu preciso comer e conversar
E preciso de dinheiro
Para ter onde morar
Mas se eu pudesse
Há tantas coisas que não preciso
De ninguém para realizar
Abandono
Eu não me importo
Eu já fui sozinha antes
Eu consigo parar de chorar em algum momento
É só secar
Quando seco eu viro ódio
E agressão
Eu só preciso lutar
Às vezes eu queria matar alguém
E toda aquela conversa sobre empatia?
Vou enfiar no primeiro que passar
Só pra tirar de mim
Estou cansada disso
Estou exausta dessa frustração diária
De ser julgada por todos
De estar sempre errada
Não posso ser triste por nada
Não posso estar irritada
Porque estou fazendo mal a todo mundo
Então todo mundo que se foda
Se eu nunca faço nada certo
E estou só manipulando
Pelo menos que eu não seja desesperada
Vou ser isso então
Má e digna
Do ódio de verdade
Não da compaixão alheia
Não de um desprezo patético
Amor é uma palavra ridícula
Eu não quero morrer
Eu quero que eles morram

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