Quando pela primeira vez teve a chance de por os olhos no mundo dos que pisam o chão, usou toda a força que tinha para descolar os cílios.
A magnificência daquele universo era visível, mesmo aos pequenos olhos desconhecedores do mundo.
Passaram-se dois anos até que fosse seguro voltar.
Não foi um retorno, para ser precisa. Apenas visitas periódicas. Como fosse uma hóspede, que arrogante insistia já estar em casa, não precisar de mais ninguém.
Sempre soube que morava ali, imersa no azul translúcido. Mantinha os olhos abertos, mesmo que naquele mundo eles ardessem.
Queimavam, avermelhados ao fim do dia, mas era ali que morava, e ela sabia. Não podia ignorar.
De tempo em tempo, foi dando passos.
E a cada vez em que tocava os dedos úmidos ao chão, a sola dos novos pés se acomodava.
Foi, toque a toque, brotando raiz.
Terreno fértil, pernas grossas, tronco.
Acostumou-se ao chão.
Passou então a vacilar quando voltava.
Brigava com as quedas frias, carregadas de areia, longe do lar.
As pernas tremiam, temendo deixar de existir para que ela voltasse a ser quem sempre foi.
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