Eu não gosto da noite
Não gosto do álcool e do cigarro
Não gosto das drogas, do sexo
Das lamas de urina na rua
Do lixo amontoado nas calçadas
Não gosto de pessoas bêbadas,
Exaustas, caindo no meio da rua,
Passando pneus por cima
De outras pessoas bêbadas,
Drogadas, morrendo por dentro.
Matando o corpo.
Não gosto do escuro que doi,
Da música que força meu peito
A bater mais depressa,
Desesperar-se,
Bombeando socorro
Ao resto de mim.
Não gosto dos carros,
Guimbas de cigarros,
Não gosto do cheiro cinza
E odeio a poluição.
Não gosto de gente.
De suas toxinas predominantes,
De como me toma a onda,
Como a todos os outros,
De como sou como eles.
Não gosto da perdição.
Carpe Diem, fuga,
Autodepredação.
Não gosto do âmago alheio,
Afogado e escasso,
Não gosto da dor que sinto
Em outros olhos.
Não gosto das confissões,
Dos beijos forçados,
Dos abraços não solicitados
E a insistência fóbica dos seres.
Não gosto de ser a mãe.
De doer a dor,
De tossir doente,
De despedaçar os ossos dos pés.
Não gosto de levantar e ver o dia,
Não gosto de ser sozinha,
E não gosto de passar a noite
Ainda enxergando o mundo como é.
Sou a única no mundo que vê
O que eu vejo.
Achei que ele um dia tivesse visto,
Mas a solidão mói minha plantar
E não há nada que eu possa fazer
Eu continuo só
Mas se eu puder mudar
E nunca mais visitar esse ambiente
Eu vou tentar
Ou vou morrer
Tentando.
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