sexta-feira, 23 de abril de 2021

Corvos

Um olho gigante me observa no escuro

Arregalado, me engolindo

Colado na minha retina 

ofuscando a habilidade de se fecharem as pálpebras

Aquilo me vigia

Eu sou um mar de culpa e crimes, 

Um maremoto, 

A maresia

Eu preciso quebrar no fim da onda

Na beira, na areia

Na borda

Eu preciso quebrar.

No escuro da noite eles comem

E no silêncio da carne desmaiada

Do surdo e do mudo

Da perda de todos os sentidos

E do infinito nada do não-átomo da antimatéria 

Pulsa e pulsa e pulsa como uma maratona que pairasse entre morte e vida

E tento ter olhos para ver

Pele para sentir

Alma para existir

Tento abrir os olhos 

Mas sou um não-átomo do átomo

Do que formou o mundo e o equilíbrio da forma

Não enxergo um átimo, 

Não o percebo

Se não o reflexo dos olhos grandes elétricos 

e a fome das bestas

O tempo e o mundo, se existem, em outro plano

Eu e eles aqui e escolho o ciclo.



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