Pela primeira vez eles se olham. Uma certa curiosidade obsessiva se instala em seus olhos. Se observam com a mesma voracidade com que gozam sob seu fetiche em comum. Se desejam. Desejam seus corpos como desejam devorar a mente um do outro. Uma espécie de atração singular. Excitação baseada no estilo de organização literária. O espaço do desconhecido é grande, mas o movimento seguinte é carregado de obviedade. É tudo o que realmente sabem um sobre o outro. É o laço que os une.
Ele se aproxima. É irresistível. Instintivamente ele leva a mão em direção ao pescoço dela. Está claro em seu olhar que ela necessita esse ato tanto quanto ele. Mas quando ele está prestes a tocá-la, ela segura seu pulso. Seu olhar muda. Ele se ofende um pouco com a rejeição. Não a compreende, mas aceita sua decisão. Se afasta. Isso a irrita. Ele não entende sua irritação.
- Por que sempre faz isso comigo?
- Isso... O quê?
- Você foge.
- Não sei te responder.
Passam um tempo em silêncio. Ela parece frustrada, e isso o incomoda.
- Eu odeio essa distância.
- Não podemos ser mais próximos.
- E por que não?
Ele não responde.
Ela respira fundo e se aproxima dele novamente. Pega a mão direita dele, beija o dorso e a leva até o próprio pescoço. Olha em seus olhos e ele entende o pedido.
Em pouco tempo ela se debate sem ar, e tudo corre como esperado. Previsível, insano e prazeroso. Sua nuca está discretamente apaixonada pelos dedos firmes que ameaçam penetrar sua garganta - por um caminho um tanto anômalo. Sua mente volta a nutrir a obsessão que repousava num canto obscuro. Uma ideia que ela desconhecia de paixão.
É uma pena que tudo na vida seja temporário,e insuficiente.
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