Ele voltou a me fazer essa pergunta. Já era de se esperar. Estávamos os dois nus na cama. Eu namorava o meu cigarro aceso e o consumia como sempre fiz com todos os meus amantes. Ele parecia invejar a minha nicotina, em dúvida se me pedia ou não um trago.
- Esquece isso, amor...
A fumaça foi saindo entre as palavras, eu sabia que seria inútil o que quer que eu dissesse a ele.
- Quantas vezes você ainda vai me deixar até ir embora de vez?
Sempre odiei essas certezas súbitas dele. Ele tinha uma certa dificuldade para confiar em mim às vezes.
- Eu nunca vou te deixar de vez. Meu amor, eu volto sempre. Sempre vou voltar.
- Por que mente para mim?
- Eu não sou mentirosa. Todas as minhas incoerências são verdade.
Resolvi apelar. Ele estava deitado me observando. Sentei em cima dele e ofereci um trago. Queria que ele relaxasse. Era nosso momento, sabe? Ele aceitou.
- Sei dessas suas verdades.
- Eu apagaria esse cigarro na minha perna, mas acho que você não está no clima...
Olhei em seus olhos como faço quando quero hipnotizá-lo.
- Não, querida. Agora não...
Afundei suas unhas na minha coxa, apaguei o cigarro na beirada da cama. Ele gemeu.
- Você me ama?
Ele parecia não ter entendido muito bem. Esperei a resposta.
- Amo... Claro que amo. Sou seu escravo, você sabe...
- Meu escravo, é?
Levei minhas mãos ao seu pescoço. Seus olhos se arregalaram um pouco. Medo. Ele sempre teve medo de mim.
- É...
Sua voz era tão baixa que eu quase não pude ouvir.
- Então, querido. Quando a gente ama, a gente não abandona. Nunca. A gente só tira um tempo pra si mesma. Entende? Eu sempre vou voltar. Sempre. - segurei seu pescoço como um pouco mais de firmeza - Porque eu te amo.
A essa altura ele já não estava em condições de continuar mais conversa nenhuma.
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