Disseram-me que eu tenho um dom. Que minha prosa é agradavelmente incomum. Mas fiz uma promessa ao meu espelho, de não acreditar em nada do que eles me dizem ser bom. Um medo preocupante de ser suficiente, de bastar. Quando é o que eu digo desejar, constantemente. Paradoxos lentos, cansativos, tediosos.
Convenceram-me de que minha singularidade é o desenho das palavras. As ordens, associações e pensamentos deturpados sobre a vida, e principalmente sobre mim. Tudo mergulhado em um certo egocentrismo e um narcisismo inverso. E a vida já começa a perder a lógica.
Faltou-lhes o aviso de que eu sou a prata envolta em vidro. De que sou apenas reflexo de todo o mundo que eu invejo e que me soa inalcançável. Desenho porque outro alguém desenhou. Escrevo apenas porque desejava ser capaz de tanto. E isso realmente não me faz talentosa. Especialmente quando todo o meu sentido vem de fora. Porque alguém já o fez antes.
Alguém com um defeito no quesito sanidade, até chegou a me dizer que eu poderia (e deveria!) ser famosa. Mas por esse lado eu sou até um tanto humilde. Queria que apenas alguém entendesse sobre o que eu ando escrevendo. Não que me achasse talentosa, ou que admirasse alguma história. Na verdade eu escrevo porque gostaria que alguém me conhecesse lá de dentro. Porque seria bom alguém bem perto. Alguém que só quisesse estar ali. Perto de mim e das minhas palavras tortas.
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