Antes do começo de tudo
Os dias são intermináveis.
Antes do fim do mundo,
Depois do início de mim.
Sob a pele que me abrasa
E sobre o fogo que me afaga a face,
Na coberta que me expulsa, passe
Um pouco dessa fé que os outros falam.
Me encaram os ponteiros do relógio.
Desvio os olhos, não sei, não noto
Sua teimosa marcha rumo à morte
Ou a sua demora mal intencionada.
Me encolho um tanto sufocada.
Não tem nome o sofrimento que me atinge.
Não é permitido alento aos intocáveis.
Não é permitido amor ao que não finge.
Entre a água que ferve, fora da chaleira,
Um desconforto breve, porém durável.
O meu barco solitário é naufragável.
Eu permaneço acordada a noite inteira.
Antes do recomeço,
Do girar cansado das horas sobre o círculo,
Não faço mais nenhuma pirueta
E é ridículo
Como um pedaço de terra
Pode nos beijar ou nos morder.
Antes que saiba
Que virá o mesmo
Ou que o futuro vem pra me assombrar,
Fecho meus olhos
Para tudo que existe.
Entre cinquenta sonhos, dinamite
Nas coisas que não quero suportar.
Busco meus dedos decepados
Pelo pôr do sol.
A ditadura do silêncio não é minha,
Mas, sozinha
Eu venho me resgatar.
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