Porque tanto me calo.
Porque tanto me frustro
Em tentar e mais uma vez tentar
Encontrar um lugar que me caiba no mundo.
Porque tenho feito esforços
Para encontrar o que gosto,
Para desejar, para existir.
Porque se não tenho gosto,
Se não tomo partido,
Se não opino ou prefiro,
Se não nego ou ofereço apoio,
Não existo.
Quem nada diz, nada é.
Porque tanto falo.
Porque tantas vezes insisto
Na minha inútil escolha
Da cor dos fios de cabelo,
Na minha dúbia preferência
De curso universitário,
No direito que a mim cabe
De faltar a compromissos,
De esquecer meus livros na estante,
De desaparecer.
Não estou aqui
Para reclamar
De tudo que me falta.
Me falta bem pouco.
Tenho família, amigos,
Uma casa confortável,
Tenho uma carreira possível.
Nem mesmo posso dizer ao certo
O que não possuo.
Eu venho aqui
Na esperança fraca de que
Escrever
[, Ao contrário de falar
Com minhas arrogantes cordas vocais,
Ou de calar,
Em forte protesto de meus lábios inquietos,]
Possa mudar algo,
Nem que seja um ínfimo algo
No limite de mim.
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