domingo, 16 de junho de 2013

Um dia na Terra

          
       

      Cinco horas da manhã. Em algum canto dos Estados Unidos um adolescente ainda bate-papo pelo Facebook. Ali não. Mas cadê o sol? Se a luz não está lá fora, não é hora de levantar. Mas os olhos já estão abertos, e com pouco tempo para explorar os detalhes da construção humilde. O corpo já recebeu a mensagem e já realiza pequenos movimentos, tomando forças. Está na hora. Logo, o primeiro alimento a ser ingerido do dia. Uma banana. Dessa vez, um tanto esverdeada. Não teve tempo de madurar. Um pedacinho para acalmar a menor, que acordou chorando com o movimento discreto.
       Onze horas. O sol começa a ficar cansativo. A manhã foi dedicada a semear e enterrar o projeto de raiz de algumas mudas, separadas na noite de ontem. O suor escorre calmo da testa. Uma pausa para a refeição do dia. Algumas raízes cozidas acompanhadas de couve. Uma porção pequena para cada um. É suficiente. E depois de uma hora de risos familiares e algumas trocas de olhares que se amam, está na hora de voltar. O filho mais velho também vai. As irmãs maiores já sabem o que fazer e vão lhe ensinar.
       Três da tarde. O trabalho de regar e enterrar algumas cascas e restos de alimentos como adubo é substituído pela colheita de algumas frutas que amadurecem nessa época do ano.
      Cinco e meia. Tarde ou noite? O sol diminuiu um pouco e o dia começa a se despedir. Um amigo de um campo próximo vem fazer uma visita.. Traz um violão. Ninguém sabe de onde vem o violão, mas ele é antigo. Alguns cantam e outros dançam um pouco, enquanto o sol se põe. A janta é servida. O alimento principal é um grão que nem ocidentais nem orientais consomem, e portanto não conhecem o nome. Mas a família parece gostar. O prato do visitante é um pouco mais cheio que os outros.
       Noite. Agora já escureceu. O visitante foi embora e todos se recolhem. Lá fora está frio. Noites frias aguçam o pensamento. A filha mais velha se pergunta sobre o resto do mundo. Percebe que o tempo é parado dia e noite. Pensa em um doce chamado chocolate do qual ouviu falar. Ela não sabe, mas não gostaria do sabor se experimentasse. Então, se deita e anseia por mais. Repara nos detalhes irrelevantes da parede. Talvez um dia ela saia dali. Ou não.
        Não é de todo ruim.
        Ela adormece.
        Todos dormem.




Inspirado no Projeto Hungry Planet, na família do Equador.
Seu gasto em alimentos por semana é de 32 dólares.

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