A borboleta foi me levando pra um caminho contrário. Pro caminho certo. Pra onde eu devia ir.
Depois ela voltou como se fosse eu, como se fosse louca. Como se quisesse ser egoísta e fugir do mundo.
E ela voou bem alto, tão alto que eu achei que ela fosse me deixar.
E a essa altura eu já tava quase chorando, tamanha era a minha solidão de não poder mais vê-la, e amá-la com o olhar.
Ela quase sumiu, mas então voltou.
E viu os carros que passavam correndo, bestas atrozes, velozes.
Seres monstruosos tossindo uma fumaça negra e cortando o ar.
Ela se jogou entre eles como se não fizesse diferença. Como se ela fosse histérica. Como se quisesse se matar.
Ou como se brigasse com tudo aquilo.
Ela me dizia "eu sou inocente, mas quero poder voar".
E eu calava.
"Voar por onde eu tiver vontade, e eu me vou, e eu me voo".
E eu gelada.
E ela dançava entre as grandes feras de metal.
E ela ficou tonta e rodopiou no vento.
Até exaurir-se e repousar-se no chão.
Chão preto cheio de asfalto.
Mar empoeirado.
Os monstros vieram por cima.
A dilaceraram.
O que eu faria?
Fiquei olhando, como se meu coração rachasse, se desfizesse em mil pedaços mortos. Apodreci por dentro. Minha alma foi morrendo, morrendo, e morrendo. Era como se ela fosse minha mãe. Ou minha filha. Era como se ela fosse eu.
Eu me vi morrer ali naquela rua, com tudo correndo tanto e todos tão enormes.
Eu quis ir atrás. Quis salvá-la. Quis morrer de verdade.
Me deitar naquele chão e ver os carros me desintegrando como a ela. Me ultrapassando, me esmagando, me tirando a existência terrível que é a de quem ama as borboletas num mundo tão acinzentado.
Me senti tão sozinha. Mas tão sozinha... Eu queria morrer.
Eu queria morrer todo dia.
Eu teria trocado de alma com aquela borboleta.
Eu teria morrido, por que era melhor do que viver tão só.
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