O amante dois me aguarda no bar da sexta-feira, pronto pra me rir como puder. O amante um me tara em seu cigarro, todo dia, encostado na parede como se ele fosse mau. O amante três me nega todo dia o pão que o diabo curte, e me incentiva a comer como se fosse mesmo bom, e acho que é. O amante quatro me viu só numa noite, me deixou maluca e foi amar a uma outra muito estranha para mim. O amante cinco, assim de supetão se resolveu por me entregar o mundo e eu fiquei naquela de me aproveitar, e acho que o amo mesmo longe da sua cama. A número seis é uma musa recortada, que a mim parece surgir das cinzas pra tomar o lugar de uma outra que se foi sem dizer tchau. Gosto da número seis. Como dos outros. O amante sete andou um pouco pra lá, e a gente não tem se visto nem se amado como antes. Às vezes o esqueço.
Amantes que vão, amantes que ficam, amantes que não trepam. Me deito na cama nua e tudo ao meu redor se afoga em violeta. As masturbações açucaradas de toda a noite parecem demasiado doces, muito delicadas. Nada que me purifique, ou me condene logo de vez.
Nem que eu saia com meu short curto e os peitos saltando, santificados numa roupa preta. Nem os lápis de olho, nem a gargantilha.
Nem o frio congelante, nem a chuva ou os cigarros mentolados. Na verdade eu não gosto de cigarros mentolados. Eu gosto é do pó.
Nem que eu pinte as minhas paredes de branco, e os móveis de branco, e jogue metade de mim fora pra doar mais um terço do resto. A cama não se aquieta, eu não me acomodo. E fico sozinha cantando no beco. Olhando o céu que insiste em ficar mudando, como se fosse as minhas decisões. Procurando no ar alguma resposta sobre o que deveria ser a vida.
Nenhum dos meus amantes então me salva de ser tão sozinha e de ter que acordar todo dia, sem entender nada. Sem saber a razão de eu ainda estar aqui perdida, viva, me arrastando, mudando de lugar o que nunca sai do mesmo quarto.
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