domingo, 15 de maio de 2016

Projeção

Eu tenho medo
De que sejam todos vândalos
Como eu.
Que se droguem escondidos,
Que façam planos de morte,
Que se machuquem
Pra esconder as cicatrizes depois.

Tenho medo de que sejam loucos,
Suicidas, assassinos, masoquistas.
Tenho medo de que sejam como eu.

Tenho medo que abandonem
Tudo que há de bom na vida,
Que cutuquem a ferida
Para que ela nunca pare de sangrar.
Tenho medo de que não estejam,
Como eu, trancados
Numa jaula estreita,
Tentando escapar.
Eu mordo as barras,
Derrubo algumas pedras do teto,
Terremoto, buracos cavados com unhas
Sob as patas.
Eu tenho medo de que sejam selvagens,
De que tenham paixão,
De que tenham a maldade que eu possuo.
E eu desejo não ser a única no mundo
Disposta a existir em tais condições.

Eu tenho medo de que eles me deixem só,
Por serem como eu.

Sou só, sou bicho,
Sou bomba relógio,
Sou um saco de maus-tratos,
Sou um poço sem fundo de dores,
Sou uma paixão engolida,
Feito esperma quente ou coca-cola,
Por todas aquelas vezes
Em que me disseram não.

Eu tenho amor e ódio
Pela pessoa que sou.
E tenho amor e ódio pelos outros,
Desatentos, lentos, uns covardes,
Absurdos, brutos, arrogantes,
Monstros, insanos, fascinantes.
São todos pedaços do que eu gostaria
De ter sido,
Todos partes do meu pavor de ser.

Eu tenho medo de que sejam todos vândalos
E que desejem todos morrer.

Eu tenho medo de ir atrás,
De querer mais,
De me sacrificar mais uma vez.
Eu tenho medo de amar todos vocês.
Porque amor e morte são iguais.

Eu não quero partir,
Mas é tudo que eu mais quero na minha vida
E que eu sempre quis.

Ir,
E amar,
E nunca mais ter que voltar aqui.

Eu tenho medo que você me deixe só
Em vez de me tirar de dentro de mim.
Eu tenho medo que seja como eu.
Um enorme fim
Que nunca acaba de terminar.

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