sexta-feira, 20 de maio de 2016

Infância

Comi um croissant de chocolate
Pelos velhos tempos
E um cachorro-quente esquisito
A moça fez sua propaganda
E eu não dei a menor bola
Pro que ela disse
Eu queria você
Você estava mal
Eu só queria te amar
Não era possível
Eu precisava também ser você
E eu não sabia como
Torcia para que tentar
Todos os dias
Fosse suficiente
E se não fosse?
Eu não queria surtar
Eu não podia
Me prometi que ia me aguentar
Eu precisava ser forte
Crescer e me segurar
Eu precisava ficar bem calma
Mas quando ria sentia culpa
Quando dormia doía
E quando eu percebia estava triste
Triste de novo
Eu tinha que me esconder de você
Enquanto saí de casa,
Cansada
Não tinha dormido direito,
Obviamente
Pensava num jeito
Chorava
Por dentro
E carregava a certeza
De que meu dia seria isso
Mas comi um croissant de chocolate
E a vida ficou um pouco mais leve
Conversei com mais uma doida simpática
Eu poderia abraçá-la cinquenta vezes
Perder meu dia ali,
Conversando
Sendo doida também
Você me apertava por dentro
Com a força das mãos de uma criança
Que segura a saia da mãe
Na multidão
Tudo deveria ser simples,
Alegre
Mas eu tinha frio
Um frio de quem sabe amar de longe
Um frio de quem sente saudades
De quem sopra um amor que se perde no ar
Eu não queria me levantar
Mas quando fui, valeu a pena
Uma caixa nova de lápis de cor
Uma amiga
Uma nostalgia na língua
E um relato repetido para Rosa
Eu te amava tanto
Que não fazia ideia
De onde colocar o meu amor
E se eu fosse tua, tua
Ainda choraríamos os dois?
Eu sabia que você podia me salvar
Já estava, até
Mas e eu?
Eu podia te salvar também?
Não queria te perder no parquinho
Não queria pensar
Em você ralando os joelhos
Caindo no chão

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