Não sou apenas um livro aberto
Eu sou um livro muito mal equilibrado
Numa superfície curta
Alta
E que desaba no mais suave toque
Bem em cima da cabeça do leitor
Não sou um livro que se lê
No conforto de uma cama
Nada tenho de confortável
Grito, choro, saculejo
Livro que se lê em pé
No trem lotado
Com os dedos enfiados entre as páginas
Numa agressividade
Quase apaixonada
Pra marcar o parágrafo da estação
Eu sou um livro
Que não se lê sem emoção
E por emoção não digo
Que seja de fato amor
Afeto, pena, empatia
Minha leitura também é agonia
Angústia, frustração e tédio
Eu não fui feita para entreter
Se antes tivesse sido
Não seria livro aberto
Pendurado
No precipício da estante
Nem por um instante
Pensaria em me atirar
Nunca suportei
O aperto de estar entre os demais
Apenas outra lombada
Salto
Me leia
Ou eu te machuco
Ou eu vou te obrigar
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