Os paralelepípedos cheiravam a chuva
O faz de conta era apenas um cano estourado
Viria a tornar-se chuva na manhã seguinte
Dia iluminado
E os bem-te-vis cantariam
Eu não saberia dizer
Se de lamento ou comemoração
Ser quem eu era
Descobrir-me gostando
Do que gostava
E que tinha tanto me tolido
Encolhido sob o tapete
Para não precisar ser
Em um dia chuvoso
Não sentir o gosto de cigarro
Na garganta
Como um desejo crítico
E sim como memória breve
Desgostosa
Do beira-mar de fim de tarde
No dia anterior
Perceber
Que não fazia sentido
Escolher um par de sapatos
Para deteriorarem-se sob meus pés
Ou eleger um nome
E alguma combinação de tecidos
Para me proteger
O cheiro que sentia
No breu da correnteza
E a brisa inacolhedora
Que precedia o pôr do sol
Eram alegorias
Que em seus sorrisos largos
Se debruçavam
Sobre meu ínfimo
E insustentável existir.
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