sexta-feira, 18 de maio de 2018

Fetish

Você combinou comigo.
Nos encontraríamos às três da tarde, em frente ao portão da garagem do meu prédio.
Eu moro perto da garagem, subsolo, eu te expliquei, mas minha janela dá pra rua.
Às duas e meia eu levanto da cama, lenta e um pouco desmotivada,
É difícil lidar com interações sociais,
Mas eu tenho um bom motivo.
Atrasada, eu resolvo ir tomar um banho.
Tento ser veloz, enquanto meus pensamentos se atropelam.
Será que me sentirei mal?
Será que quero me sentir mal?
Penso se vale a pena me depilar por aquela ocasião,
Se devo seguir os mandamentos feministas,
Se quero gastar o pouco de energia que tenho,
Tentando alcançar um padrão.
A sensação fica melhor quando tá tudo lisinho.
E essa é minha melhor justificativa.
Termino meu banho.
Me enxugo mal, e enquanto pingo pela cozinha, olho o relógio no fogão:
Estranho, ainda faltam dez minutos para as três.
Em exatos nove minutos me visto e me organizo,
Vou até a garagem te esperar.
Repenso e resolvo abrir o portão.
Você está sentado no degrau,
Ao que tudo indica, me esperando faz um tempo.
Me pergunto se você me mandou mensagem,
Se tentou me avisar de alguma forma,
Mas não digo nada.
Sorrio nervosa,
Você sorri de volta.
Quero dizer algo, mas não consigo.
Ainda do lado de fora, nos cumprimentamos com uma espécie de abraço torto,
E então entramos.

Você me observa,
Fecho o portão da garagem,
E você parece estar preparado para este momento,
Porque assim que escuto o clique da tranca,
E me viro na sua direção,
Sinto os seus dedos ásperos tomando meu pescoço
E me prensando contra a superfície acinzentada.
Não sei como reagir,
Tento tossir, mas não consigo,
Você não deixa.
Sinto meu rosto ficando quente e vermelho
E o sangue jorrando pelo meu corpo,
Como se eu estivesse em grande perigo.
Adrenalina.

Escuto passos ecoando no meio do prédio
Tento fugir de você,
Mas estou fraca.
Você coloca a outra mão entre as minhas pernas
E eu deixo.
Você aperta,
Como se eu fosse um objeto,
Como se tivéssemos qualquer tipo de intimidade.
Acho que temos.
Tento gemer, mas tudo que sai de mim é um sussurro.
Não consigo respirar.

O som dos passos de aproxima,
Fica mais rápido
E, antes que eu perceba,
Você me soltou e está encostado na parede distraidamente.
Eu observo tonta uma senhora de salto vir na minha direção
E meio desorientada, percebo que estou no caminho dela.
Levo um tempo para desviar e dar passagem,
Será que ela percebeu alguma coisa?
Ela não parece muito atenta.
Eu respiro como se tivesse acabado de correr uma maratona.
Clique.
Ela saiu pelo portão da garagem.
Eu começo a rir.







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