segunda-feira, 15 de julho de 2013

Tic-

   Tic-toc. Só queria usar uma onomatopeia. Essa é clássica. Adequada.Ou quase isso. O meu relógio não anda. Como naquela história da família que tem novidades extremamente sutis. Não dá pra viver aqui, viver dentro de mim e ser assim tão parada. Gosto da quietude mas tudo tem um limite.
   Engraçado. Instintivamente, olhei pro meu punho. Vi as cicatrizes e as minhas veias verdes. Eu gosto de verde. Mais que de vermelho-sangue. Quem sabe mais tarde eu não ceda a essa cor sutil e realize meu ritual satânico próprio em homenagem a uma causa perdida. Todas as causas comigo são perdidas.
   Oficialmente, sou obrigada a dividir todos com alguém. E isso faz de mim irrelevante. Ao menos eu tenho Marie e Miguel, os meus apaixonados. Nunca os coloquei juntos assim. Curioso o fato de a letra M estar nos dois. Não compreendo essa série interminável de coincidências inúteis.
   Não gosto de parágrafos corretos. Eles impedem a minha liberdade. Gosto mesmo é de atenção, e novidade. Mas o mundo não está disposto a satisfazer as necessidades da princesinha. Aliás, princesa não, Rainha.
   Não que eu seja isso tudo. Mas princesa não manda em nada.
   Quero um pouco demais. Uma pessoa, homem ou mulher. Que me queira, se importe e sinta minha falta. É tudo. Mas não terei tão cedo. O relógio continua parado no vazio.
   Tic-

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