A insensatez era meu lema. E não morrer era a lei primordial a mim imposta. Eu deveria fazer de meus dias uma enorme festa, forjada sobre meu suor e sangue (dessa vez dentro das veias). A partir do momento em que eu me resgatara do inferno, eles me forçavam a engolir aquelas dádivas malditas. E eu tinha que reconstruir como obrigação. Eu devia evoluir, e agradecer a tudo aquilo, ao universo, e nunca aspirar a nada além. Eu deveria apodrecer por dentro e sorrir admitindo a morte, que semelhante a todo o resto, era o lado bom de se viver. A recompensa, ou a redenção. Eu lutava por minha vida como se a apreciasse, mas vomitava em todo prato em que comia. Amaldiçoava o mundo, e os meus próprios gostos e anseios. Desejava, como temia, a senhora encapuzada, meramente ilustrativa. Buscava uma existência analgésica, como buscava a overdose. Eu havia me perdido no momento em que me salvara da autodestruição. Era agora um espírito vagante. Refugiando-me na existência alheia, abandonando toda a minha carne em busca de uma única crença. Uma nova fé. Algo que me conformasse e me engolisse, algo que me trouxesse de volta à realidade. A verdade que o mundo não mais possuía a me oferecer. Buscava a vida que eu sentira mais na morte. Buscava sobreviver também no céu, e não só no chão. Buscava o infinito.
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