quarta-feira, 1 de junho de 2016

Canção do isolamento

Construo um castelo de silêncio
Ao longo de vários anos
Vou aprendendo a engolir
Medo por medo
Mágoa por mágoa
Até que eu consiga chorar
E minha raiva
Vai tomando meu corpo
Da minha coxa ao pulso esquerdo
Ou meus ombros arranhados
Displicentemente
Eu não tenho muito tempo
Antes que meu corpo se desligue
Eu não tenho muito tempo
Para calar-me
Antes de dizer que te amo
E isso nunca ser suficiente
Não resta muito em mim
Para sustentar esse peso estranho
As horas lentas do dia
A vontade de mandar tudo pro inferno
Eu não sei o que fazer
Só queria ser útil para alguém
Estou cansada de ser tão terrível
E estou cansada dessas conversas sem fim
Não quero mais lâminas e pesadelos
E os cigarros que rejeito indignada
Eu na verdade não quero quase nada
Quem me conhece sabe
Que não tenho nenhuma ambição
Tudo que conheço
É o cansaço dos dias
E a frustração
De uma energia desperdiçada
Eu quero ter a sorte
De passar semanas deitada numa cama
Ouvindo você dizer que me ama
E fingindo que o mundo lá fora
Não existe
Mas como demora tanto
Essa espera maldita
Me revolta
E quando não choro ou grito
Quando não me machuco
Quando meus versos absurdos
Ricocheteiam na parede encardida
Tudo que posso fazer
Tudo que me resta
Tudo que possuo
É a construção permanente desse muro
Meu castelo colorido
Que isola a minha dor do resto do mundo
Talvez se eu beijar meus própios braços
Talvez se passar as unhas na nuca
Eu tenha condições de sobreviver aqui
Eu odeio essas palavras
Eu odeio meus passos
Eu odeio meus olhos exaustos
Mas eu amo você
E sempre vou fugir
Para morrer nos teus lábios macios
Para morar no teu amor

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