Os lábios rachados
A gordura ia forrando um manto
Que ao secar esfarelava
Minha tempestade de areia
Uma que me afogava
E não me permitia dormir
Contava contos antigos
Sobre ter sido sereia
Na terra das águas
Mas mal me restavam pernas
Quem diria esta cauda
Que a muito havia esfarinhado
E desaparecido no ar
Habitava um buraco no meio de mim
Que me sugava as entranhas
Em minha cabeça havia essa figura
Feita somente de sal
Aguda e fria, como pimenta
Sei que não fará sentido
Mas esta era ela
Me parasitando branca
Reluzindo, lâmpada fluorescente
Enquanto os dentes afiados
no centro de meu estômago
Tentavam me devorar
Frequentemente eu me sentia
Como se fora desabar
O mundo era um carrossel que não parava
Uma roda gigante da qual eu não podia descer
E eu tinha medo de altura
(dessa vez era eu que tinha)
Vez ou outra pulava um inseto estranho
Um gafanhoto gigante
Ou neon
Uma traça-rainha-dourada
Eu olhava os humanos de longe
Com o estranhamento de nunca ter conhecido a espécie
Eu sentia como se o mundo nunca mais fosse parar de girar
O sol estava a pico
Meio dia e meia
O céu se fechou
Despencou uma tempestade
(de água)
Cheirava a alecrim
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