segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Três anos de pôr-do-sol

Os dias nascem,
e cessam.
Poderia ser mais um texto
sobre a banalidade dos dias
Mas não é
Este não é.

Sinto falta do farfalhar 
das folhas ao vento 
do fim da tarde
Do burburinho 
das mentes aflitas
das pessoas 
Na estação Central 
de transporte "público";

Sinto falta das pernas doloridas,
costas arqueadas,
corpo dependurado,
A coluna uma toalha molhada,
torcida e atirada, 
antes de posta no varal;
A cabeça uma âncora,
precipitando-se;
E os olhos como cortinas pesadas,
a forçar o fim 
de uma noite de espetáculo.

Sinto falta de
no queimar de meu pavio
bem no fim, antes que apagasse
encontrar um resquício de pólvora:
Ver algo brilhar na escuridão
do meu fim diário
De existir diariamente
De saber que este morrer
Esta luz e este brilho,
Trariam o profundo escuro da noite
Que me traria outro dia
E eu estaria de volta
E eu teria sempre algo novo
que incendiar. 

As nuvens caminham,
os pássaros colocam seus ovos
nos ninhos,
as mariposas copulam sobre as frutas e fazem filhos,
a terra sofre erosão e a mata queima. 
Partidos políticos mudam,
pessoas nem tanto, 
tenho um dejavu escrevendo um texto;
Se minha casa fosse meu país, 
eu estaria vivendo na guerra,
Se eu estivesse vivendo dentro da minha casa, eu estaria morando no meu país. 

O sol nasce e se põe todos os dias e faz 3 anos que eu mal consigo vê-lo.
Meu quarto tem uma janela, embora eu sempre diga que não,
Mas eu nunca a abro.
Nunca abro as cortinas, e mal tenho estado de olhos abertos quando há luz no céu.
Que tanto o faça.

Os dias nascem e cessam em mim.
E isso basta.

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