quarta-feira, 24 de julho de 2024

Reptiliano

Meu corpo não esquenta
Acho que meu termômetro está quebrado
Minha mãe me comprou um novo
Acho que esse não serve
Talvez seja a chama piloto
Que esteja apagada demais
Para alcançar meus braços
Talvez me falte combustível
Meu pente saiu limpo
Acho que são boas novas
Mas eu ronco sem fome
Sem fome de vida,
De me manter aqui
E não sei onde procurar minhas calças
Eu congelo por dentro
Pra não arder em chamas
Talvez eu precise de combustível
Mas o quão perigoso isso seria?
Se eu me ateasse fogo,
Será que resolvia
Se eu cortasse as cordas
Será que meu sangue pararia
De pulsar sobre as minhas têmporas
Como desviasse o caminho do peito
Como esquecesse de funcionar
Se eu jogasse meus pertences num saco
Preto e amarrasse
Quanta falta eles me fariam?
Não me resta muito o que tentar
Ou talvez reste
Mas já não me restam tentativas
Meu corpo pede clemência
Um fim digno de guerra
Pois que de tanto tentar ser eu
Está em cinzas
E eu gostaria que alguém as enterrasse
Mas também não faria diferença

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