Os dois trocamos olhares. Nós poderíamos naquele instante explodir o mundo através de nossas mentes inquietas. E tomando conhecimento disso, eu desabei. Desabei como os casarões cariocas da época colonial, cujas belas fachadas imponentes escondem a desestrutura de seus alicerces comprometidos. A cumplicidade instalada na posição daquela perna magra, que permitia uma conversa silenciosa, era capaz de morte. Uns poucos segundos de uma irreal existência mútua, e estaríamos os dois em retorno absortos na burocracia da vida. Ele estaria, ao menos. Seria mais honesto de minha parte descrever apenas a ele como um ser capaz de tal concentração. Era como se o apocalipse não o alcançasse e nem mesmo abalasse a sua sombra. O sorriso repleto de uma ironia irreverente, e porém disfarçada, era só mais um sinal de que não estávamos nem de longe em sintonia. Perdêramos-na havia tempo. E como se fosse o único bem que tivéssemos perdido, naquele momento este parecia de uma importância insuperável. A autencidade daquele gesto se ausentava de tal maneira que me doía. Me doía no pouco que restava de concreto em minha definição. Rachava-me as bordas e corroía-me os meios. Ter seus olhos em encontro aos meus era um suplício inimaginável às testemunhas daquele diálogo invisível.
Fui-me cambalhoteando meus próprios passos, como se buscasse o ar que ele me arrancara sem a menor misericórdia. Implorei por demônios que me atordoariam os pulmões e busquei alguma redenção no colo de outra alma perturbada. Afinal, naquela tarde tudo me parecia feito de açúcar. E mesmo que a chuva se negasse a desabar impiedosa em meu caminho, podia-se ver o tudo que estava prestes a diluir e me abandonar. No fundo era apenas triste ter que aceitar o que já não existia no mundo que eu havia modelado.
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