Me lembro bem daquela tarde em que você me ligou.
E eu desabei tão forte que você pareceu pasma.
Chorava em teus ouvidos, soluçava.
E parecia tão intenso, tão real, que estávamos as duas atordoadas com aquela situação.
Era impossível forjar um sentimento àquele ponto.
Você notou.
Notou que aquilo tudo vinha de um canto tão profundo de mim.
Ah, menina. Se você tivesse metade da sinceridade que eu tive contigo, já seria muito.
Vê?
Somos como a bela e a fera.
O monstro queria a beleza para si, e de toda forma se despedaçava em pétalas para entregar a ela.
Mas a bela moça no caso, teve tamanha repulsa pela voz alterada da besta, que sumiu do mapa.
De fato, histórias assim não existem.
Queria que você não tivesse tido medo de mim.
Queria não ser hoje ainda mais destruída que já era quando a conheci.
Sabe aquela flor?
Aquela rosa vermelha guardada num pote de vidro.
O encanto em forma de objeto.
Ele não existe mais.
Por mais que não se importe, saiba que se perdi meu dom de amar foi por sua causa.
E eu o perdi. Estou certa.
Fui condenada a ser monstro, e de fato tive minha chance despetalada até a semente.
Eu gostaria de pedir desculpas a mim mesma por ter te deixado entrar aqui dentro de mim.
Me desculpe, querida.
A esse reflexo gordo no espelho.
Esse pedaço de carne com fios arrepiados no topo.
A essa personalidade desbotada.
Me desculpe por deixá-la entrar assim.
E sugar tudo que havia de potente em minha existência.
Você foi a minha morte no quesito amor.
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