quarta-feira, 8 de julho de 2015

Anemia

O desânimo me tomou
E cada vez que eu colocava
Mais uma bala
Dentro do cofre de esperança
Eu esperava que
A bala não fosse derreter
E sujar tudo
Dessa vez
E lá ia se formando
O grude de caramelo e plástico
Meu peito já não é mais tão elástico
Eu me senti assustada,
Triste, exausta,
Faminta
O dia sempre estava pouco frio
Ou frio demais
E eu nunca dormia direito
Eu precisava colorir mais um pouquinho
Arrumar mais doces
Apostar mais em coisas
Que eu não tinha vontade de fazer,
De resolver,
De ver que existiam
Mas eu colocava meus pés
Pra fora da cama,
No chão
Enfiava meu corpo
Debaixo da água
Mesmo que o banho
Fosse uma tortura lenta
E mesmo que debaixo da coberta
Fosse tão incômodo
E doloroso
Eu tentava mais uma vez
Dormir mais cedo
Enquanto fugia dos olhos
Da minha mãe
E ainda fugia do céu
E da calçada
E do mundo lá fora
De tudo que importava
Eu estava tentando,
Mas sem vontade de nada
De gente, de ser feliz, de me mover
O desânimo era meu dono
De verdade
E eu me perguntava se isso era depressão
Não me dei ao trabalho
De avisar a minha terapeuta
Ou os meus amigos
Apenas desapareci
E eu nem queria comer
Mas eu precisava
Precisava comer até não me aguentar em pé
Esgotar o estoque
Esgotei-me
E então estive faminta
De carne,
De gente,
De tudo.

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