quinta-feira, 24 de setembro de 2015

A fidelidade da ausência

Não cobrarei de ti todos os dias
Não pensarei em ti todas as horas
Por estranho que o pareça
Vivo em desafios,
Descansos e arrepios
E conquisto pouco a pouco
Por período indeterminado
O direito de ser tua
Se é esta a recompensa
Eu preciso que ela o valha
Nem que parar de me punir
Seja o valor da honra de ser amada

Eu sobrevivo
Do que minha pele suporta
De dedos e unhas a ferro quente
De frios na espinha a carne exposta

E se o meu verso de hoje
For finalmente não te escrever
Verso algum, fracasso miseravelmente

Mas hei de me esforçar para ser digna
Das coisas que desejo
Se te desejo, irremediavelmente sempre
E para acompanhar-te preciso
Fingir que desejo-te um pouco menos
Se para que tu te sintas amado
Incondicionalmente
Eu preciso dar dois passos para o lado
Sem nunca ofender-te
Ou atirar-te cubos de gelo
Eu te prometo que tentarei
Com cada pedaço de corpo
Que em minha mente cabe
Com quaisquer artifícios que
Minhas mãos alcancem
Sem me machucar ou projetar guerras
Sem fugir do paraíso perdido
Ou tampouco atear fogo
Às nossas árvores
Calar-me na menor violência possível

Mesmo que todas as rosas
De todos os diversos jardins
Sejam clichês
Roubo delas o perfume da partida
E sem nunca sair daqui

Me ensino o que já devia ter
Aprendido há décadas:
Estar longe de ti e te encontrar.

Fecho então meus olhos mais uma vez
Ignoro as coxas doloridas
Por motivos banais
Escapo dessas roupas quentes infernais
E enquanto a água gelada
Me retorna a consciência
Que sempre tive
Limpo teu nome de todas as coias sujas
E antes que meus dois polos se reencontrem
Volto em busca de mim mesma
Livros, escritos, cores
Sem recitar-te poemas
Ou exigir-te coisa alguma

Se tu me amas, e eu sei que amas,
Não há jamais problema em ficar só
Não existe dor ou vazio que se justifique
Se posso morar em ti
E sempre voltar para casa

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