segunda-feira, 11 de abril de 2016

Mudança

Deixei Isabel do lado de lá
Mas acordei disposta
A enfrentar o mundo
Vesti meu short correndo
Para esconder a tristeza
De minha mãe
E troquei o par de meias
Estavam todas velhas
Mas meus pés também
Não estavam assim tão limpos
Eu teria que desmarcar com ela
De novo
Mas tudo bem porque
Hoje eu não podia falar sobre
Como estava triste
Todos os dias
Porque não podia ficar triste
Porque tinha artes pra fazer

Eu trouxe da outra casa
As minhas dores do lado direito
Do pé, da coxa riscada, do pulso
De tanto mexer no celular
Talvez um pouco
De tanto me agradar
E a cabeça
Doendo de tanto pensar em você

Ninguém me disse
Que quando eu resolvesse terminar
Meus textos todos
Falando sobre amor
Mesmo que sobre morte também
Seria tão mais difícil
Ser amada
Do que, como de costume,
Não ser

Eu guardo meus elogios
Desde sempre
Em caixas muito especiais
Me sinto, no geral,
Amada
Pelos estranhos humanos,
Pelas pessoas que abraço
No caminho diário
Me sinto querida

Mas protegida, nunca
Entendida,
Muito dificilmente
Eu queria que a gente
Se beijasse, pelo menos
Pra ser como nos filmes
Pra acalmar a ardência
Dos meus lábios

Você me ama
Eu sei
Você me chama
Com teus olhos cerrados
Em sussurros fortes
Finge que não sabe
Mas eu sei
Eu te toco
Todas as noites
Pra lembrar que tenho pele
Eu raramente me sinto
Tão pacificamente calma
Quanto eu me sinto contigo
Querido,
Eu moro em você

Não é do lado de lá
Ou do lado de cá

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