segunda-feira, 18 de abril de 2016

Purple Haze

Lucidez.
Era isso,
Entre tantas outras coisas.
Você me tornava lúcida.
Talvez não na manhã de segunda-feira,
Em que eu tropeçava pelos móveis da casa.
Mas em toda madrugada,
Em todo fim de tarde,
Em quase todo nascer do sol.
Você dava um sentido
Para tudo aquilo que eu via,
Cheirava, sentia.
Você era a explicação de tudo,
A minha resposta.
O porquê da minha ira,
O porquê da minha maldade,
O porquê da minha vontade,
E o porquê da minha fraqueza.
Eu estava nua,
Às sete da manhã.
Estação central,
O caos da vida.
E eu nunca tinha estado tão nua
Frente a tanta gente
Que não me via.
Roxa, roxa, eu estava.
Uma uva, por falta de fruta melhor.
Você não me comia.
Não naquele instante.
Mas eu era absolutamente sua,
E até o ar que me tocava
Era você.
Tinha que ser você.
Eu tinha um cronômetro girando
Dentro de mim
E você era o único
Que fazia ele emudecer.
Então eu percebi,
Eu percebi.
De novo e de novo,
Era sempre mais um segredo,
Um novo caminho descoberto,
Eu estava amadurecendo.
Não era verde,
Não mais.
Era roxa.
Eu te disse, imprevisível,
Eu nunca tinha me visto
Daquela cor.
Eu engolia
O vermelho afobado
Do desejo em seu estado bruto,
E respirava o azul
De nosso estado mais sereno.
E tudo fazia sentido.
Fazia sentido e vibrava na minha pele.
Eu existia
Ali
Nua.
E eu nunca quis estar tão exposta pra você.
Eu tinha consciência
De tudo que me acontecia.
Lúcida,
Como te cheirasse a noite toda.
Louca,
Porque não me reconhecia mais no espelho.
Mas queria que você me visse todas as vezes
E você via.

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