Que a efemeridade do nosso amor tolo pouco nos doa
Que a nossa insistente ostentação de batalhas seja perdoada
Que saibamos diferenciar sempre os dias de vitória e os de fracasso
Que possamos amar-nos um ao outro e aos demais tal qual odiamos a nós mesmos
Que quando formos capazes de desatar nossos laços de nylon,
Sejamos também livres de nosso passado
Que Deus saiba mesmo o que está escrito, que nos ajude
Que o Diabo nos tente até o fim de nossos dias
Que a carne queime nos becos assombrados
E que a boca escorra glitter pela manhã dos carnavais
Que visitemos praias, montanhas, casas de pessoas estranhas
Que encontremos sempre templos em corpos nos quais tenhamos chance de descarregar toda nossa fúria acumulada
Que façamos o que não nos permitem
Que agrademos aos que não merecem
Que nos consumamos um ao outro como oxigênio em forma de organismo
Que uma mente estupre a outra simultaneamente
Que estejamos sempre distantes um do outro
Que a partida e retorno do trem leve a sabedoria rotineira da paz infeliz
Que eu seja forte o suficiente para aguentar o esticar da minha pele
Que meus tímpanos não estourem com teus gritos todas as madrugadas
Que tu tenhas silêncio dentro de ti para que me possa ouvir sem desmontar
Que tu tenhas fé, mesmo que insossa, para me contar histórias da carochinha
Que tudo que pretende acontecer conosco, aconteça
Que esteja forrado o chão no qual vamos nos esfregar em desatino ou delírio
Que eu possa trepar um dia com tudo que tu és
E tu, com tudo que sou
E que se formos a mesma pessoa um dia
E se formos abortados pelo tempo separadamente
Como gêmeos ao sair do útero
Possamos seguir nossos caminhos
Sem que um morra da dor do outro
Sem que a independência espiritual nos faça pó
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