Eu uso guias anônimas para fazer apenas duas coisas:
Uma delas é me masturbar
A outra é ler você
Como você pode ver,
O pudor comum não aprova
Que eu te acompanhe ou deseje
Você em mim é erro social
E todos eles concordam a respeito
Talvez por isso, sejam quase trezentas
As vezes em que te escrevi
Não sei onde foi que me perdi
Nem por que continuo a te esperar
Você desaparece num instante
Eu não sei o que acontece
Não importa
Se eu estou obcecada ou não
Você sempre me dá temas para escrever
Apesar de o tema sempre ser você
E por mais que eu esconda os textos
E os rabiscos, e os quadros debaixo da cama
Quando você vem e me chama
Eu me esqueço até do meu próprio nome
Eu não quero existir sem você
Mas sou tomada de uma raiva insana
Incompensável, insaciável
Uma raiva de quem não ama
De quem necessita
Uma raiva de todos os famintos e exaustos
Mas tudo que eu quero
É você
Então, não volta
Não volta nunca
Que eventualmente eu vou esquecer
Ou me acostumar a tudo que não é
Não retorna
Não alimenta a minha estadia decrépita
Não me prende nesse não ir e não vir
Nessa eterna estação de trem
Não me fala coisas que não diz
Não some outra vez
Não me deixa aqui
Eu vou rezar para você voltar
E aí terei ódio por tudo
E dia sim ou dia não
Eu vou me esfregar nos lençois aflita
Ou sufocar de choro apavorada
Eu vou temer a infelicidade
E despejar em você todo o meu desespero
Enquanto você não voltar
E quando voltar
Se voltar
Eu vou dizer que não vivo sem você
Pronunciar a minha ordinária desesperança
No nosso futuro, juntos
Isso chega a me doer sem que eu nem fale
Só em pensamento
Eu vou falar tudo que você já sabe
E você não vai dar a mínima pra nada disso
Nada vai ser novo ou interessante
Até que
Eu não faço ideia
Aqui tudo falha
Eu falo demais e não concluo as coisas
E o futuro
E o amor
E o medo
E o dinheiro de que todos precisamos
E você
E você, cadê?
Eu odeio conversar com as paredes
Eu odeio querer que você volte
E eu odeio me sentir frustrada quando você volta
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