As palavras dizem mais o que desdizem
Que o que de fato tentam dizer.
Não me convencem ou guiam,
As palavras não conseguem me entender.
Já fazem quase oitocentos textos
Que tudo está prestes a terminar
E um anjo guardião me disse
Que o que importa é continuar aqui.
Há coragem nas coisas que escolhemos ouvir
E há doçura no que às vezes decidimos não falar.
Não no medo ou malícia,
No silêncio compulsivo da passividade,
Há por vezes uma espécie de amor.
A paixão afásica me leva talvez
Ao mais desdito dos impulsos.
E ali, residente da fronte de desconhecidos,
Eu me enxergo satisfeita
No pranto reprimido de outros.
Isso me salva.
A palavra que não verbaliza-se
Ou o sentido que veste um belo disfarce.
Não o que possuem,
Mas o que são.
Sempre o que são os homens,
Mulheres, crianças, velhos,
Às vezes os cachorros, borboletas,
O que são os seres me intriga.
Sinto que para existir,
Preciso ser e compreender
Todos os outros.
Só sou se eu existir em você,
Se ouvir teu silêncio,
Se sentir teu medo,
Teu sorriso, tua dor,
Só sou eu mesma
Se eu antes te for.
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