quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Desaviso, teimosia, compasso

Me dizem para dançar
Eu paro
Me dizem pra falar
Eu calo
Me dizem pra cantar
Silêncio
Não batuco, não sussurro ou assobio
Me dizem pra cegar, espio
Me dizem pra existir,
Desapareço

Me dizem para amar, odeio
Se me pedem confiança,
Eu já receio
Se me gostam já de cara,
Eu apavoro
Se me dizem pra sorrir,
Eu quase choro
Seco os lábios até ver
as rachaduras
Recomendam que não risque,
É só rasuras
Fecho os olhos
Quando falam pra enxergar
Quase sufoco:
Me dizem para respirar
um pouco mais fundo, devagar
Eu perco as forças
Se me dizem para andar
Eu atormento
Se me dizem pra parar

Eu fecho as portas
Quando chega uma visita
Exigem calma
Mas eu só me vejo aflita
Se me pedem atenção
Eu fujo logo
Se me chamam pra jogar,
Eu nunca jogo
Ignoro:
Me recordam, não demora
Mas se me superam,
Nunca vou embora
Se me gritam, não escuto,
Eu ensurdeço
Me perdoo,
Se me dizem que mereço

E assim, segue
Me pedem,
Não faço
Me querem,
Não posso
Me agradam,
Não quero
Com tempo,
Não espero

Me odeiam,
Permaneço
Me apaixonam,
Eu pereço
Eu não peço,
Me socorrem
Quero perto,
Quase morrem

E se cansam
Me condenam a teimosia
Eu insisto a negação
E já dizia
Não espere de mim
Muita obediência
Não carrego o dom
Da subserviência

Psicologia inversa
Sempre falha
Quando eu noto
Tudo cai sobre a navalha

Não faço, faço,
Desfaço quando quero
A rima é minha
A bipolaridade é minha
E o livre arbítrio
Da nossa nova era
A métrica, a vontade
E tudo que me cabe
Não respeito o que dizem
Mas existo por mim
Assim existo
Porque eu agora escolho
Este é meu fim

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