terça-feira, 17 de novembro de 2015

Papai Cruel

Eu, na rua,
Sozinha
Debaixo da chuva.
Teimosia:
A chuva hoje decidiu me esquentar.
Eu, no calor da água
Dos céus,
Sozinha.
O mundo virou de pernas pro ar.

Café, pra mim não importa.
Palavras, por outro lado, são valiosíssimas.
Palavras, na minha terra, são moeda.
Só não valem mais do que o silêncio.

Minha tristeza nunca passa.
É a mesma tristeza de sempre.
Já faz tempo que diziam:
Tenho olhos tristes.
Eu tenho olhos de fim,
Desde os meus onze anos.

Todos os meus amigos
estão mortos.

Todos os meus amigos
Bebem veneno de rato,
Como se ratos fossem.
Todos os meus amigos
Gostam de brincar
de pique-esconde.
Todos os meus amigos
Vivenciam momentos sublimes
De agonia.

Todos os meus amigos
Querem morrer.

Então, eu fico só.
Por raiva, por medo, por sensatez.
Por não querer suicídios coletivos,
Por não querer saber
Da bondade alheia.

Eu fico só
E fujo todos os dias do fracasso.
Injeção letal no amor alheio.
Eu sumo, não quero,
Não ouço, não posso,
Não me importo com ninguém.
Não quero saber.

Eu saio debaixo da chuva,
Sinto calor e frio,
E esqueço de todos eles.

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