quarta-feira, 23 de março de 2016

Room

Eu pego o seu nome
E prego na minha parede
Ela é azul, eu sei
Mas não é possível ver
Se eu não souber
Se eu não lembrar
Se eu não quiser crer

Eu pego o teu nome
Cru, como a beleza
Do que conheço de ti
E faço dele a minha cruz
Não vou me ajoelhar
Implorar, rezar ou me punir
Vou chorar, sim, vou rir
E me pintar as mãos,
Os pés, os joelhos e o rosto
Gastar o meu desgosto
Só pra ter um pouco mais de espaço
Escasso, o meu desejo de viver

Então é minha fé que você vai ser
Um objeto, um nome, uma figura
Eu sei que ando meio torta
Nessa crença, nessa doença
Mas não disse que quero me endireitar

Eu quero é poder te desenhar
De folha em folha de capim
De gota em gota de tempestade
E em toda essa minha vontade
De poder um dia te encostar

Se isso me fizer sair da cama
Se isso me trouxer um pouco
De esperança,
Como se eu fosse ainda criança,
Perdida no meu mundo em quarto partes
Eu, minha mãe,
Meu pai e minha liberdade,
Se isso me fizer dançar mais uma vez

Em vez de me cobrir
Num gesto habitual
E me esconder de tudo
Incomodada
Eu escrevo teu nome

Nos lençois, no vidro,
Nos meus cadernos, na testa,
Na minha tinta, na fresta
Entre o aqui e o mundo,
Eu escrevo teu nome no fundo
Dos meus dois copos amarelos
Nos meus escritos singelos
E na minha oração

Eu escrevo teu nome no teto
E também escrevo no meu chão
Para que todas as manhãs
Eu possa te pisar as mãos
Como pisasse num ser
De suprema delicadeza
Em toda a minha destreza
Ser atenta a tudo que doi
Não só o que ama, mas o que destroi
E notar tudo que existe,
Eu você e o resto
O que não manifesto
Mas sei que sempre está lá

Eu escrevo teu nome na tela
Recito uma ou duas vezes
Canto.
Eu crio teu encanto todo dia
Só pra ter o que olhar
Pela janela

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