Deu-me vontade num momento,
De pôr fogo naquele teu texto.
E no meu vestido,
E na minha cama.
Tive o impulso de atear fogo
Ao meu cabelo,
E à tua pele,
E à nossa casa.
Tive o desejo mórbido
De também pôr em chamas
O teu filho.
Que grita aqui em meu ventre,
E desespera-se
Por não existir.
E ele não vai.
Tornaria cinzas igualmente
O livro que escrevi,
Só aqui dentro.
Que não pude vomitar em letras,
E em que falava sobre ti.
No meu texto,
Matava-te.
Como o fez,
Mal faz um mês.
Tornou tudo real.
E se este fogo que me deixa esta vontade,
Superasse o sol que me batia,
Enquanto eu te amava
Naquelas ruas estranhas.
E não importava
Quem passasse perto.
Porque eu te amava,
Em cada esquina em que meus pés doíam,
De tanto te acompanhar.
E mesmo o mar,
Que ameaçava tudo,
E que te trazia peixes pra matar.
Até o mar ardia em brasas ao te ver.
E se eu pudesse nos queimava juntos.
Consumia o nosso amor,
E a nossa existência.
Se eu pudesse,
Devorava essa saudade,
E engolia-te em chamas,
Antes que fosse tarde.
Antes que desse tempo
De nos salvarmos de nós mesmos.
Antes que desse tempo,
De eu não mais me afogar em ti.
E respirar a brisa
Da felicidade
Sem amor.
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