sábado, 31 de agosto de 2024

Blue Bird

Quando eu voltava sozinha da escola
Você tava lá
Quando o meu quintal maníaco
Teve seus muros trancados
Você estava lá
Quando eu passava todo o meu dia
Fugindo
Pra lugares que não conhecia
Evitando as paredes da sala
Quando às inevitavelmente encontrava
Você estava lá
No dia que fugi de casa
Silencioso sob meus pés
E nas costas da minha mente
Você estava lá
Enquanto eu tinha crises
De ansiedade e pânico
Nas salas de aula,
Nos laboratórios,
Nos consultórios, aguardando atendimento
Você estava lá
Quando eu decidi
O que decidi
Você estava lá,
Feito um manto preto
Que descia pesado
Sobre as minhas costas
Comigo, me direcionando
Segurando minhas duas mãos
Deixando meus pulsos nus
E meu pescoço quente
Quando eu voltava pra casa congelando
Quando tentava passar dias sem comer
Quando derretia e destruía minhas pernas 
Quando tive ideias, quando criei
Quando deitei na esquina, no fim da rua
Quando passei vergonha,
Tive o maior pavor da minha vida,
Quando fui assaltada,
Quando não me rendi,
Todas as vezes que eu tomava banhos
Ou saía de casa
Você continuava lá.

Pouco a pouco 
Eu fui forçada
A vê-lo desmoronando
Dissociando
Diluindo
Escorrendo
Perdendo você de si mesmo
Outro nome, outra cor
Outras regras
Outra preocupação em segui-las
Muita hipocrisia
E sempre, tudo que menos me importava:
Muito dinheiro envolvido
Desde que me lembro de ser gente
De compatilhar minhas fotos como não deveria 
Eu vivia ilhada
Você era uma onda constante 
Maré baixa, pouca comida
Sempre um lugar pra sentar de noite
Fumar um cigarro.

Você soube de toda a minha vida
Você não me contribuiu em nada, 
Me criticou,
Me humilhou, me deteriorou
Parte do meu cérebro
Mas o buraco que veio dentro de mim
Nunca poderia ser preenchido
A tua ausência,
A tua presença,
A abstinência
De ter uma imagem translúcida
À qual me agarrar.
A minha sombra
Que respirava sobre minha nuca
O bafo quente,
O vento gélido,
Quando perdi meus pés
E minhas mãos
Quando meu rosto,
Quando minha garganta
Parou de funcionar.
Durante todo esse tempo,
Você estava lá.
E agora não está.

Se uma árvore cai na puta que pariu, e ninguém escuta; Será que caiu mesmo?

sábado, 24 de agosto de 2024

White

What if I decided
To eat all of my pills at once
Like a pack of candies
I want my brain to be working
ASAP
I want it now
I'm tired of this shit
I'm tired of me
I wanna get thin
I wanna disappear 
I want the world to experience less
Of my body
Of my mind
Of me as a whole
Even though I'm not even close
To be whole
I want to train them
For them to be prepared
Not to cry over my grave
Because even though I would enjoy
the smell of flowers
I would hate the sound of tears
Dropping all over me
I crave for silence 
A silence you can only get
By being either deaf
Or dead
I want to never feel my ears again
I want to communicate, just
Not to absorb
After all I think
I would still be hearing all the voices
Constantly yelling at me
Inside my mind
Or on my throat
I always ask myself on which side I am
But then I realize I'm a bunch of fuckin' people
They just cannot get along with each other
And I get it
The hatred is probably what brings us together
Or the fear
I want to be able to sleep
And wake up without a headache
I want to have lighter dreams
But my pain is endless
It's probably my fault anyways

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Inverso

Eu me debato quando a lua sobe
Os passarinhos cantam
E eu fecho os olhos
Me despedindo do dia recém-nascido 

O sol me causa bolhas quando eu saio
E ela fecha as janelas,
Me privando de ar
Eu sinto falta da água 
E do silêncio 

Achei que se eu trancasse as portas
Se eu ligasse o vento
Enfim iria achá-lo
Cometi um erro
Não havia tranca 
Eu não estava só

E nessas circunstâncias,
Até gostaria
Pelo bem ou pelo mal,
Para cima ou para baixo
Eu queria mergulhar no espelho
E ele acabou sendo
A minha única saída.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Super Lua

Eu sei que quanto mais o tempo passa, 
Mais eu vou cedendo para esse outro mundo
Embora eu não compreenda o apelo,
A origem ou
Como se situa
Embora eu não conheça os alicerces
Ou a ponte em si
Como me divido em duas
Perante a psicose que se nutre
Da minha morte
E de meus respectivos sonhos
Talvez seja o mofo
Que se cria e reproduz sobre os meus dejetos
Como um mosquito sugando meu sangue
Ou as bactérias que moram em minha roupa perecível 
Não entendo direito o porquê
Ou para onde estou indo
Mas me sinto acumulando,
Escorrendo,
Transicionando 
Para este outro espaço
Perdendo as horas que me restam
Como eu fosse a areia de um relógio antigo
E faltam poucos grãos
Se comparar ao início

Talvez seja a magia
O poder de caos
A onipotência
Ou talvez
Seja o inverso do mundo
Porque lá eu consigo vencer
A batalha comigo mesma
Que estou constantemente perdendo
Lá eu tenho as ferramentas necessárias
Pra me repartir em várias
E me olhar nos olhos
Como encarasse um lobo
Como encarasse o espelho
E a imagem que se desfaz diante de mim
Eu tenho a chance rara
De vivenciar meus maiores medos
Meus maiores desejos
Meu ultimatos e extremidades

No fim das contas
Aqui não realmente existe
Antes fosse
Alguém, algo
Antes existisse
Mas isso ficou no passado
Um passado distante demais
Para que eu me lembre



quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Gafanhoto

Quatro horas da manhã
Hoje você não falou comigo
Eu sinto o perigo queimando
A ponta da minha língua
Desde minha pele gritando
Por atenção
Ao medo de que meus pensamentos
Sejam virados ao avesso
E eu seja excluída de todos os ambientes
Acendo um isqueiro e
Ponho um cigarro na boca
Me lembro de milhares de coisas que vivi
Como se em vez de memórias
Fossem um filme que eu assisti
Há muito tempo
Me lembro da sensação e
Me vejo em terceira pessoa
Eu sou uma estranha a mim mesma
Queria pintar meu cabelo de verde
Verde-limão
Ou rosa
Rosa avermelhado
Sempre um dos dois
Nunca me decido
Queria arrancar meu cabelo
E com ele a percepção de identidade
Eu não me conheço
Não me reconheço
O espelho me humilha
Ri da minha cara
Me ameaça
Me diz pra voltar pra casa
Esse jogo não é pra mim
Eu tenho medo
De ter um corpo
De punhá-lo na rua
De me expulsar de casa,
De mim
Da minha cabeça
Acho que tá vindo aí uma enxaqueca
Meus dentes pedem socorro
De tão mastigados
Não sei quando eu comecei a fazer isso
Hoje mordi meu dedo
Tentando arrancar pedaço
Mas quando percebi que já não sentia mais a dor
Desisti da força 
Me assustou
Eu costumava ser corajosa
Eu tenho medo de tudo
Que é consequência de uma interação 
Sinto que meu futuro está escrito
E é ser devorada viva
Por humanos
Talvez eu seja um gato
Ou um gafanhoto
Que coberto por chocolate, dizem
É uma delícia de engolir
Talvez eu só sirva mesmo
Para ser servida
Em uma bandeja grande com tempero e molho
Defumada de nicotina.

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Lego

I brush my hair
With the hope to get it a little cleaner
With the hope to clear off my thoughts
But instead, poetry comes to me
I wonder why you make such decisions
To refrain from telling me
Something important
Are you just not smart enough,
Or too smart to get involved in this mess?
My teeth sink, aching
I'm super fucking worried about it
Not enough conscious of my fear
Of the appointment I have scheduled
For today's afternoon
I wonder why you treat me so sweet
To give me cold spits
Like a porcupine that activates
Once sensing danger
I always ask myself if you
Are just plain selfish
If I'm just a doll for you
If you decide
When you wanna feel like being kind
Are you playing me?
Am I a toy or a friend?
Could I be anything else?
I try my best to fit
Whatever you expect on someone
And whatever everyone needs
You tell me heavy stories
You make me worried about
Someone I like
You make me untrust them
And you act angry 
When I finally make peace
Were you jealous?
I thought you liked my company 
Were you jealous of him?
How can I ever be close to you?
You are the middle, the gray zone
You are the arrows among translation
You are present and 
I know you will be there, daily
But you're never really there, are you?
Are you ever with me?
I know that maybe the reason why
You are so anesthetized
If because of the khaos that revolves you
But if you knew, what I think about
That loud af girl, begging for attention
If you knew how I see you hurting her
Maybe you would get really mad at me
I think you would
It seems you're just another child
And I'm so so tired of playing the mother role.

sábado, 3 de agosto de 2024

Preto e Branco

Não sinto falta dela
Dela que sou eu
Que não sou
Meu clone,
Minha alma gêmea,
Um pedaço de mim que nunca descobri
Ela que me conhecia
Que sabia elogiar como eu queria
Que sabia escutar
O que eu não dizia
E me lembrava no silêncio do abismo
Que nós duas ainda compartilhamos
Não sinto falta dela
Do cheiro dela que nunca conheci
Da cor dela que eu só via em dias bissextos
De todas as artes que ela me mostrou
Não sinto, não sinto mesmo
Meu cérebro escorre as lembranças
Como água de um espaguete
Cozido demais, gelado
Demasiado tardio
Não sinto falta dos olhos dela
Sobre meus textos
De devolver os olhos à sua pele
Não sinto
Falta dela nem de mim
Por mim pode ir tudo pro inferno

Retrátil

Ela me criou neurótica
Como um rabo desacoplável
Me ensinou seu ofício
Com graça e técnica
Da coluna torta
Ao furo nas presas
Seus hábitos de fogo e sono
E sua beleza
Pra que eu fosse ainda mais apresentável 
E ainda mais dolorida
Pra que eu ocupasse o palco
Que ela desejava conquistar
Uma deflexão,
Uma concorrência
Alguém com quem lutar,
Uma companhia
Ou a versão disso
Que ela conhecia

Ela me ensinou a ensaboar-me 
Sempre duas vezes
No umbigo, e atrás das orelhas
A passar álcool nas mãos
Até criar fissuras
Sua loucura,
Com detalhes e tutoriais
Me mostrou
Como falar ao contrário 
Como regra, 
Calar-me ao ter necessidades
E fez par com ele, 
Pra demonizá-lo
E espelhar sobre ele 
Sua fútil ira

Quando eu abri os olhos,
Já era escorregadia
Já era imune ao frio
Já sabia elevar o espírito 
Fugindo à comida
E que o prato tem que ser sempre bonito
Como as xícaras
Quando eu abri os olhos
Eu já nem me conhecia
Já tinha sido furtada de mim
Mesmo na barriga
E todos os sons que eu ouvia
Eram os da sua voz
E não da minha





quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Gasolina e palha

Me lembro do dia
Que coloquei meu filho entre os gatos
Ele teve o primeiro ataque de pânico
Eu achei que ele fosse infartar
Em desespero, eu fiz com ele
Tudo que faria comigo
Chovisquei ele com a mão
Assoprei um pouco
Levei ele para o quarto,
Pro silêncio 
Liguei um ventilador
Coloquei meu celular
Pra tocar música de chuva
Apaguei a luz.
Tinha uma cama
Eu deixei ele na gaiola
Não lembro se estava aberta
Nessa hora eu pensei
Eu queria dormir
Eu queria deitar nessa cama
E dormir
Havia pessoas em outro cômodo
A cama não era minha
Eu tinha ido lá pra visitar uma amiga
Uma mãe postiça
Uma casa amiga
Eu costumava me sentir segura naquela casa
Não sei desde quando isso desabou
Manchou
Feito um hematoma
Que em vez de sarar
Se torna cicatriz
Uma mancha na minha pele
No meu peito
Como se tivesse nascido ali.
Eu me lembro do que fiz
Com a minha alma 
Extensa, que gritava por mim
Que sufocava por mim
Que fugia por mim 
E
Era amada por mim
Eu tentei o que eu podia
Mas eu continuo me sentindo
Como se tivesse gatos ao meu redor

noisy cracks

Listening to 18+ music on repeat
Masking f'n hard as if my life depends on it
I think it does
Drowning deep into my own khaos, 
I was trying to hold myself on something
But the walls are slippery and slick
Gooey, spiky, abrasive
I get lost in my goddamn maze
As if I haven't been living in there since I was born
The noise blasting my ears so hard
I feel deaf if I turn it off
I'm sick of needing so many meds
To stay barely sane
I wish I had someone to do that for me
I'm chronically exhausted 
Trying to convince myself
Not to drown in pills and alcohol 
Or to open gaps over my skin
What the fuck am I doing
Skipping myself
Begging for a hell
More hellish than this one
Cuz I can't stand it
I can't stand the lack of meaning of it all
I feel like everyday
It's just a new chance for me to give it up
I stuff myself and wish
I was starving instead
I hurt my fingers distracted
How long have I been battling this endless war?
Somebody fucking help
I wanna follow her steps


Jason

Senti sua falta.
As noites irritada com sua empolgação
Com vontade de te mandar pro inferno
Você me ensinando sobre um idioma alien
Eu relutante
Meus desenhos perfeccionistas
Os seus desenhos precários
Eu sei com facilidade
Qual é o seu talento e qual o meu
Eu senti sua falta
Você barulhando no meu ouvido
Sem paciência com nada
Vontade de me xingar
Ocupando minha noite
Enquanto eu sei que te dizer algumas frases
Te faz virar duas noites em claro
Você é meio fraco
Tá preso nesse labirinto
As paredes são fixas, cimentadas
Fundamentadas
Meu labirinto é flexível,
Ecoa sussurros mórbidos
Dança conforme eu ando
Me deixa nauseada
Você é de outro planeta
Eu sinto sua falta
Minhas noites estão vazias
Você é um estranho na minha memória
Eu me sento no breu
Sem o ímpeto de ligar a luz
Congelando por dentro da pele que eu visto
Eu não estou habituada a sentir frio
Achei que eu tinha aprendido a ficar sozinha
Mas eu ainda ligo rádio pra não ficar no silêncio
Mesmo não suportando o som
Eu tenho medo do escuro
E tenho medo de mim
Não é de você que eu sinto
Falta, eu digo
Eu só queria uma vitrola
Pra servir de mantra
E me pôr pra dormir
Mesmo de olhos abertos
Eu quero não estar aqui
E fechar os olhos
Tem sido como estar no inferno.