Não sei teu nome
Não me recordo
Tuas histórias não são mais do meu agrado
Reciclo este texto
Para manter vivo o legado
Que guardo
Para, morta,
Ter o que servir aos demais
Senão à terra o pó para compô-la
Decoro a tua imagem vaga
Um resquício de uma figura completa
Um desfoque sob meu manto perene
Talvez registre uma frase
E com essa amostra de som
Descubro a tua voz
Que já não conheço
Já não sei quem és
Não quero conhecê-lo
Não quero saber teu nome
Ou recordá-lo
Das fotos, discos, capturas
De cheiros, ecos de toques antigos
Ou texturas
Que adormeceram minha pele
E que me puseram hoje
Neste corpo;
Uma casa mal-assombrada
Que eu devo amar e venerar
Deixo que se diluam resíduos
E se tento mantê-los
Escorrem por entre meus dedos como água
Já não reconheço
Não sei as minhas histórias
O berço de minha memória
É violado
Não o conheço
Não sei de seu rosto ou trato
A imagem de seu retrato é uma foto em branco
Na mesa ao lado
Não tenho nome
Não tenho um luxo
Nunca nasci de fato
Nunca estive aqui para te conhecer
Nem mesmo tenho face
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