Estava lendo sobre nós
Dizia lá que para nos manter
Precisaria estar sempre em aventuras
Tenho tanto do medo do caos que mal me sei
Queria ser magnânima, magnífica
Queria ser a protagonista de uma história esplêndida
Como eu sempre falo sobre você
Olha, é mentira.
Me desculpa por passar a vida
A projetar-te coisas que sou
Defeitos que tenho
Queria que fôssemos mais parecidos
Queria que o fraco fosse tu
Mas não é certo
Eu quero tanto, tanto ser correta
Acima de tudo me importo
Com a justiça e honestidade nas coisas
Há coisas que não vemos
Há momentos em que falhamos
Eu falho tanto, tanto
Eu tenho tanto medo da vergonha
Da exposição, da fraqueza, do abandono
Tenho tanto medo de ser banal e humana
Tenho medo da mortalidade que me aflige
Tento conviver com ela, mas nem sempre posso
Eu quero ser perfeita, maravilhosa
Quero ser a mais generosa
E sempre a dona da razão
Eu sou religiosa, mas prego que os que são, são todos loucos
Eu tenho uma fé egocêntrica
Acho realmente que o universo faz coisas só por minha causa
E quando me liberto
E admito essas crenças absurdas
Me vejo tão idiota, tão estúpida
Quando eu repito que são todos os outros
Eu me acho melhor que eles
Me acho melhor que todos, mas não sou
A maneira como eu vejo o mundo não é a melhor e mais correta
É apenas a minha maneira, e eu me prendo nela em desespero
Por estabilidade
Metade da minha estabilidade se dá por egocentrismo
Por desejos e necessidades primitivos, quase incontroláveis
Me desculpa, por ser tão imperfeita
Por ser tão arrogante e te cobrar tanto
Não seja tão gentil, eu não mereço
Mas, por outro lado, a tua honestidade me melhora
Eu me vejo admitindo tantos defeitos
Aceitando que existem várias falhas,
Que erro e erro
Que não tenho posição para exigir-te tanto
E mesmo assim,
Tu vieste preocupado
Se pondo a me escutar e me fazer promessas
Se dispondo a ser alguém que eu desejava
Me sinto tão mimada
Eu preciso ser sincera
Eu lia sobre a gente hoje
E lá dizia que éramos assim, intensos, caóticos
E que só daríamos certo mergulhados nesse nosso caos
Brigando todas as vezes
Criando novas coisas,
Mudando tudo de lugar
Mas a verdade é que eu não quero isso
Eu busco todos os dias a calma que me falta
A mesma paz com a qual eu não consigo lidar
Quero que sejas paz, e eu também o seja
Quero que tudo se acalme
Quero ser apenas uma,
E saber de tudo que se passa na minha vida pacata
Quero passar uma eternidade a ajudar pessoas
Ser agradada por isso
E ainda agraciada pelo universo
Eu quero que seja sempre tudo bom comigo
Como se eu merecesse
Mas isso sempre será absurdo
O mundo não quer que eu seja isso
Eu quero ser, eu preciso disso
Sem minhas crenças esquizofrênicas
Sem projetar nas pessoas com quem me importo
Todas as malícias que tenho, todos os defeitos
Como se pudesse curá-los desta forma
Eu me enxergo
Lado direito e esquerdo
E não é reconfortante a minha imagem
Mas é real
Me sinto na necessidade de admiti-la
Queria que tu lesse isto
Desculpa por ser tão arrogante
Eu ainda tenho medo que não possamos dar certo
Em toda teimosia, fantasia, necessidade básica
Eu penso muito sobre isso
Obrigada por ser honesto
Serei honesta contigo
(no fundo, talvez eu nem tenha ideia
de quem tu realmente és,
talvez eu seja um fracasso,
talvez eu acerte só uma parte,
e seja incrivelmente comum,
como todos os outros)
Nenhum comentário:
Postar um comentário