A loucura me alcança em pernas magras ou braços gordos.
Em seios fartos, em grandes olhos, em lábios bem desenhados e em espaços mal preenchidos.
A loucura nunca corre, sussurra.
Como Iara a me recitar versos, nada na própria melodia e apenas aguarda que me afogue.
A loucura nem sempre me vê desprevenida.
Às vezes sabe, e ri convencida de que por ela eu sou tão apaixonada,
Que daria minha vida, é quase certo, para senti-la por inteiro.
A loucura gosta de brincar de posses.
Finge que me tem, finjo que é verdade e sorrateiramente acabo saindo do jogo.
Só pra equilibrar um pouco a competição.
A loucura me encontra em becos vazios, em praças lotadas ou no meu próprio berço habitual.
Me entrega flores, me oferece vinho, e nós sempre sabemos onde isso termina.
A loucura e eu trepamos como se não houvesse amanhã, e nosso tempo nunca é tempo de verdade.
Temos um espaço a parte dentro de mim.
Quando me trai a loucura,
Não mais me beija em colos sensatos,
Não mais me atinge zonas erógenas e orgasmos brutos,
Penalizo-a por sua insipidez e aguardo a próxima recaída.
Sei que estou presa a ela como estou presa à vida.
Por isso a amo e a odeio enquanto posso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário