quarta-feira, 13 de julho de 2022

Chapéu e a Matilha

O começo dele tinha gosto de fim
Tinha gosto de que eu queria que fosse o fim
Eu vi o brilho no negro do olho do lobo
Por dentro de meus olhos fechados
As folhas secas se ralavam no cimento da calçada
E ninguém entendia
O que eu tentava dizer aos gritos
Em desespero
O que eu tentava dizer em silêncio grave
O que eu calava com meus próprios braços e mordaças
E minhas inúmeras e vãs tentativas
De não ser ignorada
Meus fragmentos
Minhas amnésias
Minha literal e lateralidade
Meu preto no branco no preto no branco no preto no meio do caos
No meu apocalipse
E a minha ilha
E como o oceano que a cercava era tão imenso, mas tão imenso
Que eu nunca iria conseguir escapar 
De todas aquelas lágrimas

E como eu sou a minha ilha, e não apenas vivo nela
Não posso deixá-la
E como não existo fora deste faz de conta
E como fantasias não são reais
Nem eu, nem o lobo
Somos reais
Eu não existo
Por mais que eu tente muito existir
Eu não consigo
O mundo não tem espaço pra mim
Não me cabe
Não me ouve
Não me compreende
Eu não passo de uma coletânea de personagens

Uma série de histórias que ninguém nunca vai contar.


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